Esta letra escrevi-a em Dezembro, tendo feito algumas alterações mais recentemente (mais concretamente, hoje). Tal como o nome indica, é um desabafo, um apanhado de vários pensamentos que me têm assolado nos últimos tempos acerca da situação da minha geração.
Desabafos de uma geração à deriva
“Escolhe algo que gostes”,
Ainda há quem diga,
“E não terás que trabalhar
Nem um dia na tua vida.”
Escolhemos o que gostámos
E saiu-nos o tiro pela culatra
Agora é viver para trabalhar
Ou escolher um destino no mapa.
Ano após ano vai-se ouvindo:
“Para o ano é que é!”
E nessa urgência criam-se raízes
De tanto esperar de pé.
E quer nos sentemos,
Quer continuemos a lutar,
Há sempre um marmanjo que diz:
“Vocês não querem é trabalhar!”
Antes fosse senhor
deputado,
Talvez o remorso não
fosse tanto
Ao pôr projectos na
prateleira.
Casa, mulher e
filhos?
Talvez aos quarenta,
Quando tiver dinheiro
na carteira.
E não é por não querer ser empreendedor,
Mas explique-me lá do que vai servir
Uma empresa por cada jovem trabalhador
E ninguém com dinheiro para consumir?
E ainda falam dos impulsos,
Que mais vale isso do que nada.
Também mais vale ter as duas pernas
Do que ter uma amputada.
Talvez os Maias estivessem certos
Ao elaborar o seu calendário
E cheguemos ao fim de um ciclo
Abolindo de vez o salário
E hipotecando de vez o futuro,
Promovendo o voluntariado
Que é mais económico para o patrão
Que um empregado assalariado.
Explique-me então
como quer
Que eu desconte
Ou algum dia
contribua?
Além de que para o
meu sustento
Passo p’lo medo
constante
De ir para o olho da
rua.
E há quem nos chame ingénuos
Por acreditarmos em alternativas,
Há quem nos chame crianças
Por querermos lutar pelas nossas vidas,
Desvalorizando ainda
O poder da união
Daqueles que querem lutar
Pelo futuro de uma geração,
Revirando os olhos de cada vez
Que o povo vai p'rá rua
Para reclamar esta terra
Que é mais nossa do que sua
Que não a respeita,
Nem a quer trabalhar,
Servindo de moeda de troca
Para o banqueiro alimentar.
Mas no meio deste
leilão
As licitações vão
sair caras
Porque o povo precisa
de comer.
E essa venda a
retalho
Que enche os bolsos
de alguns
Deixa a maioria a sofrer.