Já há algum tempo que não escrevo músicas, ou não acabo as que tenho na gaveta. No meio disso, saiu esta, chamada "Entre dois copos de cerveja". A ideia surgiu depois das últimas férias de natal que passei em Lagos, em que o assunto da maioria das conversas passava inevitavelmente pelo desemprego, procura de emprego e acabava sempre com a malta a dizer "estou a pensar ir embora" e outras variantes. Por isso decidi escrever uma música que retratasse esse estado de espírito e a sangria da emigração.
Chegaram as férias
E as noites mal dormidas
Entre dois copos de cerveja
Fala-se da vida.
Reencontros são confrontos
De experiências passadas,
Receitas frustradas
Para vidas penhoradas
Refrão:
“Então como estás?
O que fazes agora?”
“Estou à procura de emprego
E a pensar ir para fora.”
Meio cheio vai o copo
Meio vazio
Dessa vida curva e torta
Ao sabor de um rio
E não anda nem desanda
A merda de um emprego
Nem o raio do impulso
Acalma o desassossego
Refrão:
“Mais estágio, menos estágio,
É igual lá fora,
Mas se quero almoçar
Tenho que ir embora.”
Vejo amigos, conhecidos,
Sempre o mesmo assunto,
P’ra quem fala da retoma
Parece um defunto,
O país do turismo
E das exportações
O que mais exporta são precários
A contar tostões.
Refrão:
E arrasta-se a noite,
Devia ir embora.
Preciso de apanhar ar,
Vou dar um salto lá fora.
E arrasta-se a noite,
Devia ir embora
Que estou à procura de emprego
E a pensar ir para fora.
E arrasta-se a noite,
Tenho que ir embora.
Preciso de apanhar ar,
Vou dar um salto lá fora.
E arrasta-se a noite,
Tenho que ir embora,
Porque quero almoçar
E só me deixam lá fora.