quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Desabafos de uma geração à deriva

Esta letra escrevi-a em Dezembro, tendo feito algumas alterações mais recentemente (mais concretamente, hoje). Tal como o nome indica, é um desabafo, um apanhado de vários pensamentos que me têm assolado nos últimos tempos acerca da situação da minha geração.

Desabafos de uma geração à deriva

“Escolhe algo que gostes”,
Ainda há quem diga,
“E não terás que trabalhar
Nem um dia na tua vida.”

Escolhemos o que gostámos
E saiu-nos o tiro pela culatra
Agora é viver para trabalhar
Ou escolher um destino no mapa.

Ano após ano vai-se ouvindo:
“Para o ano é que é!”
E nessa urgência criam-se raízes
De tanto esperar de pé.

E quer nos sentemos,
Quer continuemos a lutar,
Há sempre um marmanjo que diz:
“Vocês não querem é trabalhar!”

Antes fosse senhor deputado,
Talvez o remorso não fosse tanto
Ao pôr projectos na prateleira.
Casa, mulher e filhos?
Talvez aos quarenta,
Quando tiver dinheiro na carteira.

E não é por não querer ser empreendedor,
Mas explique-me lá do que vai servir
Uma empresa por cada jovem trabalhador
E ninguém com dinheiro para consumir?

E ainda falam dos impulsos,
Que mais vale isso do que nada.
Também mais vale ter as duas pernas
Do que ter uma amputada.

Talvez os Maias estivessem certos
Ao elaborar o seu calendário
E cheguemos ao fim de um ciclo
Abolindo de vez o salário

E hipotecando de vez o futuro,
Promovendo o voluntariado
Que é mais económico para o patrão
Que um empregado assalariado.

Explique-me então como quer
Que eu desconte
Ou algum dia contribua?
Além de que para o meu sustento
Passo p’lo medo constante
De ir para o olho da rua.

E há quem nos chame ingénuos
Por acreditarmos em alternativas,
Há quem nos chame crianças
Por querermos lutar pelas nossas vidas,

Desvalorizando ainda
O poder da união
Daqueles que querem lutar
Pelo futuro de uma geração,

Revirando os olhos de cada vez
Que o povo vai p'rá rua
Para reclamar esta terra
Que é mais nossa do que sua

Que não a respeita,
Nem a quer trabalhar,
Servindo de moeda de troca
Para o banqueiro alimentar.

Mas no meio deste leilão
As licitações vão sair caras
Porque o povo precisa de comer.
E essa venda a retalho
Que enche os bolsos de alguns
Deixa a maioria a sofrer.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O Presépio

Num Natal em que as famílias contavam os tostões, a crítica às políticas de austeridade do governo tomou várias formas (como a imagem em baixo). Apesar de atrasado, fica aqui o meu contributo.

O Presépio

O pinheiro está murcho
Com um ar acastanhado,
As fitas cheiram a mofo
E o vaso está furado.

O Joãozinho brinca num canto
Com o presépio partido
Enquanto reconta a história
Do milagre sucedido.

Não há palha no presépio,
Nem burro, nem vaca,
O rei mago levou tudo
E o Zé ficou à rasca.

O Menino chora com o frio,
A Senhora tenta aconchegá-lo
E nem os restantes presentes
Chegam para consolá-lo.

Para o rei não há solução
Que não seja o sacrifício,
Ficar sem tecto nem pão
Ajuda a matar os vícios.

"Ó Joãozinho deixa-te de histórias,
Anda mas é jantar
E pára de pintar bigodes
Na figura do rei Gaspar!"

"Não são bigodes, é uma máscara.
O pai diz que ele é ladrão,
Se o reconhecem neste estábulo
Ainda vai é para a prisão."

Não há palha no presépio,
Nem burro, nem vaca,
O rei mago levou tudo,
Um Natal de cortar à faca.



Muito temos p'ra cantar

Num mundo em constante mudança, como o de hoje, muito temos para cantar. Em cada página de jornal, um título de uma notícia pode ser o ponto de partida para uma nova canção. Por essa razão crio este blogue, no qual partilharei poemas e músicas de minha autoria sobre os mais diversos temas, incluindo a actualidade conturbada do nosso país. 

Bem vindos a esta página e espero que gostem.